Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 22 de março de 2016

O DIA SEGUINTE (The Day After)...


Um país imaginário no continente americano.

Após a cassação do seu mandado pelo Congresso Nacional, a agora ex-presidenta desce a rampa do Palácio do Planalto com cabeça erguida e olhar firme no horizonte. O que pensava ela naquele exato momento? Seu único lamento, diziam seus assessores, era que ela tinha sido injustiçada. A não ser as insinuações de improbidade administrativa, nenhuma prova a incriminava.

Mesmo com o olhar firme seus olhos representavam uma intensa solidão. Do lado direito da rampa os coxinhas, vestidos de verde e amarelo, gritavam palavras de ordem. Alguns se excediam nos palavrões. Do outro lado da rampa estavam os vermelhos, que em coro denunciavam que aquilo tinha sido um golpe. A cada passo da ex-presidenta para fora do Planalto o clima ficava mais tenso. Até o final da rampa, no seu último passo, a ex-presidenta não perdera a postura.

Antes que ela tirasse o pé da rampa por completo ouviu-se um tiro. Segundos depois, outro. Passa um carro a toda velocidade e dispara outro tiro na multidão, o povo corre alucinado. Antes separados pelos cordões de segurança, os verde e amarelo e os vermelhos se misturam em uma pancadaria geral. A ex-presidenta é protegida pelos seus seguranças e levada novamente para dentro do palácio. O exército entra em ação, ouvem-se mais tiros. Aos gritos uma senhora chama atenção para dois mortos, um de cada grupo. Os grupos que se confrontavam ficaram paralisados diante dos corpos. Uma senhora que não vestia nem verde e nem vermelho, espantada disse em bom som, “meu Deus o sangue de ambos é vermelho!” Os carecas do ABC, inconformados, gritam “não é sangue!” A briga recomeça violentamente e se espalha pelo resto do país. Cidadãos completamente cegos.

Na Avenida Paulista, um repórter da maior emissora de televisão é crucificado em frente a Federação das Indústrias com uma faixa no peito com os dizeres “liberdade de imprensa nunca mais”. Uma cena horrível. Começam as acusações: “foram os bolivarianos, eles estão infiltrados na multidão”. Uma senhora em estado de choque, com um cartaz na mão escrito “fim do direito das empregadas domésticas” grita “foram os cubanos”. Vários corpos estão espalhados pela Avenida Paulista, símbolo do capitalismo selvagem. Um homem grita “fora os fascistas”. “Abaixo a direita”, grita uma mulher em lágrimas. Um homem incauto tenta sem sucesso levantar os corpos (nestes acontecimentos sempre tem muita gente incauta). O país vira um palco de guerra. O exército enfraquecido assiste ao derramamento de sangue, decepcionando aqueles que defendiam a volta do militares ao poder.

Os políticos são cercados no Congresso. Pedem que sejam libertados e prometem ser bons políticos. São castigados. Os anarquistas colocam fogo nas duas casas de leis. Os políticos são amarrados e com medo confessam todos os seus crimes. Os coxinhas que podem escapam aos montes com destino a Miami (nem todos).  A presidenta volta ao seu posto. O país dividido. No sul os separatistas criam a República do Rio Grande do Sul.  No nordeste surgem os neocangaceiros, ainda mais violentos. Em Canudos aparecem os neoconselheiros, ainda mais fanáticos. Um país sem grandes líderes. Os neonazistas rasgam a constituição. Um país aos frangalhos. Alguns grupos em número menor pedem a intervenção americana com medo de uma suposta invasão dos chavistas.

Num sobressalto acordo e percebo que tive um pesadelo durante o sono.  O Brasil continua democrático. Respeitando sua constituição. Sem qualquer tentativa desesperada de golpe ilegal. Que a corrupção seja banida sem colocar em risco as instituições democráticas que ganharam força nas últimas décadas. Viva a democracia.   


quarta-feira, 16 de março de 2016

CONFUSÃO


A sensação é de confusão total. Cada dia uma novidade no mundo da política. Os denunciantes, depois de algumas horas de “pop star” e glória, viram réus. Publicamente esculhambados. A cada dia uma novidade nos relacionamentos. Amor perfeito, declarado com ostentação. Em um tempo curto, separação. O amor perfeito vira baixaria, escárnio. Um fala do outro sem qualquer preocupação ética. Alguns segundos e o evento é esquecido, esperando o próximo escândalo. Até o “japonês da Federal”, símbolo da lisura, foi pego com a mão na botija. Contrabando. Sensação do carnaval. Carcereiro da Lava Jato. Teve seu momento de glória. Caiu em desgraça em poucos dias. Cada dia uma confusão.

Cada dia uma confusão.  O jeans surrado, cabelo comprido, tênis desgastado e uma ideologia na cabeça e na práxis. Abaixo a Ditadura Militar. Tortura. Medo. Uma geração insegura. Caras pintadas, estudantes, jovens. Uma geração que sabia onde queria chegar. Encantou. Fora, Collor. O caçador de marajás. Iludidos. Fomos. Chiques. Passeiam e manifestam pelas ruas com roupas de grife. Antenados nas redes sociais. Aparecidos. Querem ser vistos. Fazem poses. Fazem caretas. Indignados. Pedem o fim da corrupção. Com razão. Esperam um herói. Quem será? Até agora aqueles que se colocaram à disposição a ser heróis caíram em desgraça.

A confusão é geral. A babá, o cachorro, o bebê e os patrões passeiam pela passeata. Civilizados. Como fica a luta de classe? Acabou? Panelaço. Não querem nem ouvir o que o outro lado tem a dizer. Ora, ordeiros. Ora, desordeiros. Um espetáculo atrás do outro. Um movimento atrás do outro. Os políticos ficam desorientados. A oposição oportunista. Vaiados. Expulsos. Embusteiros. Estão como barata tonta. Confusão. Xingação. Político em baixa. Parece que não entenderam o que a rua deseja. Ou fazem de conta que não entenderam. Estão de olho nas eleições de outubro. Apavorados.

Eleição. Não venda voto. Não compre voto. Temos culpa no cartório, elegemos e amanhã não nos lembramos em quem votamos. Esquecimento. Não levamos a sério esta responsabilidade de eleger. Elegemos. Parece que temos vergonha de dizer que elegemos irresponsavelmente.  A confusão é geral. Quando chega a eleição votamos no que estamos enxergando. Imediatismo. Não analisamos. Parece que tratamos eleição como entretenimento. Diversão. Tiramos o corpo fora. Imputamos responsabilidade ao outro. Sentimos aliviados. O povo não sabe votar. O povo é burro. Desapreciamo-nos. É o tal complexo de vira-lata. Estamos como barata tonta. A confusão é geral.


A saída está em nossas mãos...

segunda-feira, 7 de março de 2016

MULHER É COR-DE-ROSA CHOQUE: NÃO PROVOQUE!


O Dia Internacional da Mulher deve ser comemorado em todos os cantos do planeta.  Deve ser lembrado como um dia de luta.  Deve ser lembrado conscientemente que ainda há muito que conquistar em um mundo tão desigual na convivência diária entre homens e mulheres. Um mundo tão desigual entre mão de obra e capital. Deve ser celebrado como um dia para elogios e flores. Um dia para denunciar as atrocidades contra as mulheres em lugares do mundo em guerra. Estupros e violências contra a honra. A mulher nas últimas décadas foi inserida no mercado de trabalho, mas ainda é vitima da cultura machista. O costume de ver a mulher como objeto ainda é latente. A violência doméstica tem aumentado assustadoramente a cada dia. Ainda tem mulheres que são apedrejadas até a morte.

As mulheres embelezam o mundo. As mulheres trabalham tanto quanto os homens e seus salários são menores. As mulheres são mães. As mulheres têm dupla jornada de trabalho: na empresa e quando chegam em casa. As mulheres são lindas. As mulheres são guerreiras. Enquanto você lê este texto centenas de mulheres estão sendo estupradas. Agredidas. Neste dia as mulheres devem ser elogiadas pela sua força. Elogiadas por assumirem sozinhas o comando da casa e a criação dos filhos. As mulheres nos últimos anos têm assumido cargos antes só exercidos por homens. Não são valorizadas monetariamente.

O Dia Internacional da Mulher é um dia de reflexão. Há lugares no mundo em que ainda existe a prática da circuncisão. Mutilação. As mulheres são encantadoras. Há quem questione a existência de um dia dedicado à mulher. Acham que todo dia é dia da mulher. Mentalidade machista. De todas as comemorações o Dia da Mulher deve ser um dos mais respeitados.  Aos olhos e vontade de muitos homens as mulheres devem ser submissas. As mulheres devem aceitar a traição. Devem aceitar a outra em silêncio. Existe justificativa religiosa para que mulher aceite a traição. Absurdo. Deus não tem nada a ver com isso. Existe política clara para subestimar a mulher. A mulher é catalogada entre feia e bonita. Como mercadoria. Não subestime uma mulher, pois você não sabe da sua força.   


A idéia de levantar estas questões não é para acirrar diferenças entre homem e mulher. Urgentemente é preciso humanizar essas relações. Urgentemente! Talvez precisassem descobrir quem deseja esse acirramento. A paz é possível. Cor-de-rosa choque.