Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

METAFÍSICA

Continuação do meu livro... Acompanhe no Portal viva granja Vianna e no blog: WWW.cotiamemoriaeeducacao.blogspot.com

METAFÍSICA

A multidão fazia fila na principal rua da cidade. Milhares! Gente com todo tipo de enfermidade. O povo começava achegar uma semana antes, outras pessoas na noite anterior, para serem atendidas pela benzedeira Ditinha da Volta, como era conhecida na região e nos estrangeiros. Ali se concentrava gente de todos os lugares. A sua reza era famosa e levantava até defunto, diziam os mais otimistas.

Os descrentes excomungavam as benzedeiras e as curandeiras, atribuindo a elas coisas ruins que aconteciam na cidade. Diziam que elas ou eles tinham pacto com o diabo. Porém! No calar da noite, muitos desses descrentes foram vistos buscando alívio para os seus sofrimentos da alma. Depois de atendidos e a alma aliviada,apimentavam suas línguas novamente e voltavam a atacar os rezadores, principalmente d. Ditinha.

Coisa de gente ingrata.

Médico de diploma nessa região era difícil de ver,e as benzedeiras e curandeiros faziam o papel desses homens de branco, em falta no lugarejo.Rezavam para crianças de bucho virado. Buscavam remédios para cura nas folhas e no mato. Eram conhecedoras dos segredos das florestas.Dentre todas as benzedeiras,d. Ditinha era a mais poderosa e conhecida. Aprendera essa arte com seus ancestrais, na maioria foram vitimados pelos senhores nas senzalas. 
D. Ditinha também era parteira das boas em todos os seus anos de atividade humanitária, nunca perdera uma criança, mesmo quando virada no útero da mãe.Os padres católicos a cada missa,em seus sermões, dedicavam um tempo significativo para criticar essas crendices do povo. Diziam que essas pessoas tinham ligação com o diabo. Ligação com satanás. E outras besteiras malditas. O que os padres não sabiam era que essas benzedeiras, com sua simplicidade, eram o bálsamo dessa gente esquecida por Deus.

Muitas vezes esses sermões eram ouvidos pelas próprias benzedeiras que assistiam as missas e a cada palavra dita os olhos dos fieis as censuravam. Certa vez um padre dessa igreja secular utilizava a prática do exorcismo. Foi excomungado e expulso da igreja. O dito padre, quando começava a missa e as rezas, caía gente pelo chão,espumando pela boca e os olhos viravam e esbugalhavam e outras vomitavam tufos de cabelo. Era assustador. Muitas pessoas saíam dali curadas.Essa atividade espiritual era malvista pela igreja. 
Coisa de gente sem cultura.

A corda arrebenta do lado mais fraco (nem sempre).

Da casa dos Magalhães, de repente os gritos ecoaram pelas ruas de paralelepípedo,acusando e condenando Morrudo pelo sequestro do galo Edivaldo. Enlouquecidos! Aos poucos, foi se formando um grupo de gente com vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Com os dentes cerrados e com pedras e paus como arma, a multidão partiu para cima do pobre Morrudo. Foi ele! Ladrão de galinheiro. A primeira pedra lançada abriu uma brecha na cabeça e o sangue desce pela testa. Ele usou o galo Edivaldo para fazer macumba! Macumbeiro! Gritavam.Ladrão!

A muvuca estava montada

Do meio daquela muvuca surge um ensandecido que levanta um pedaço de pau para acertar Morrudo na nuca.Surge d. Ditinha benzedeira, com toda sua autoridade e sua presença de espírito, e a multidão fica em uma posição de letargia. Quando ela começa a colocar limite na situação, surge todo pomposo,pelo Beco do Savioli e logo,descendo a rua da matriz, o galo Edivaldo, até cantava fora de hora. Quem soltou o galo? Alguém percebeu que a situação estava fugindo do controle e soltou-o.Morrudo poderia ser linchado. Morrudo foi salvo pela soltura dogalo. Será que o galo se salvaria da próxima festa na casa do Zé Galinha?

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