Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AS MÃOS NÃO DEVEM SER USADAS PARA FAZER JUSTIÇA

 Imagine se todos resolvessem fazer justiça com as próprias mãos? Que método podemos usar com mais eficácia nesse caso? Podemos até enumerar quais os castigos deveríamos usar para diminuir a violência que nos amedronta a cada dia. Uma sugestão a ‘la francesa’, amarrar o bandido com os braços abertos em dois cavalos e cada um deles puxaria para seu lado, com o público em delírio extasiante e aos gritos, justiça feita! (Leia História das Prisões, de Michel Foucault). Temos sugestões mais simples a apresentar: amarrar o delinqüente no poste com o pescoço preso com uma trava de segurança de bicicleta. Podemos também espancar o bandido até o desfalecimento (aos gritos da multidão enrrurecida). Olha o que não falta é mecanismo para aplicar castigos aos delinqüentes. Será que essa justiça com as próprias mãos aliviaria a criminalidade em apenas uma década?

 Ainda bem que a maioria dos brasileiros não pensa assim, que a melhor coisa a fazer é justiça com as próprias mãos. Quem não fica balançado quando alguém que perdeu um filho, a mãe, o pai ou um ente querido por uma ação violenta lhe pergunta: se tivesse sido alguém da sua família o que você faria? Intempestivamente diante da comoção poderíamos responder que mataríamos. Nem todo mundo age assim. No início da década de oitenta, quando ainda não eram comuns crimes como assistimos todos os dias, um jovem em um Banco com a filha no colo. De repente um assalto e um tiroteio - sua filha foi alvejada por uma bala perdida e morre no seu colo. Quando perguntado pelo repórter o que ele desejava ao bandido que tinha assassinado sua filha de três anos, uma resposta surpreendente, que até hoje não esqueci, quase trinta anos depois: “O que está faltando à humanidade é acreditar em Deus”. Um gesto humano que comove qualquer um, mas ainda não responde e não apresenta nenhuma proposta para conter a violência que tem assolado o nosso cotidiano.

 “Alguém precisa aparecer com um projeto de país, em vez de projetos de poder”, o jornalista Clóvis Rossi com está frase nos remete a uma reflexão interessante. O que estamos vivendo é uma disputa apenas pelo poder e pouco interessam questões que há tempo deveriam ser resolvidas ou pelo menos encaminhadas para algum tipo de solução. A violência é uma delas (leia segurança). Ainda, combatendo a violência com as próprias mãos, outro dia, uma mãe que teve o filho adolescente assassinado no portão de casa, mesmo depois de entregar o relógio, demonstra que a sociedade, na sua maioria, deseja saídas pacíficas quando responde como devemos nos comportar diante de tanta insegurança: o que é necessário é que as instituições públicas funcionem. Bingo! O voto é apenas um passo da construção de uma sociedade democrática e justa. Como cidadãos, precisamos ir além do voto e participar efetivamente das questões políticas e das decisões daquilo que nos interessa. Essa reclamação coletiva (histérica) de que os políticos são culpados por tudo é cômoda demais (sabemos do que eles são culpados). Existem trabalhos em todos os cantos do país, muitos realizados pelo voluntarismo que mostram que o melhor investimento ainda é no ser humano. E a mão pode ajudar melhor na construção desse ser humano.

 PS: sugestão de leitura, Cultura e Barbárie Européias, de Edgar Morin

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