Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O BURACO



 

                                                                                                                                                                 O Bicho

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira

Dirigindo o carro de repente você fica cego. Aos poucos milhares de pessoas na mesma situação de cegueira, epidemia, uma saída rápida e cômoda para as autoridades é segregar. Indistintamente, médicos, motoristas, enfermeiras, donas de casa, infratores são colocados em fábricas abandonadas sob rígida disciplina de controle para que fiquem presos para não espalhar a cegueira branca. Doença desconhecida pelos estudiosos e autoridades estabelecidas. Com o convívio diário sob pressão, independente da classe social, cada um ali vai mostrando o que tem de mais vil e de mais nobre.

A briga pela comida, as fezes que não são recolhidas e o ar pesa no lugar onde estão segregados. Seres humanos que viram bichos como (descritos) no poema de Manuel Bandeira. Matam como forma de saída para suas aflições. Essas descrições de homens e mulheres vivendo como bichos não são cenas de ficção. É a realidade de muitas cidades do Brasil onde o crack tomou conta. Aqui, em Cotia, não é diferente. Outro dia passando debaixo de um pontilhão que corta a Raposo Tavares, as cenas vistas não ficam devendo em nada aos melhores livros ou filmes de ficção.Gente de toda idade andando em direção o um buraco aberto na parede que protege a ponte de possível invasão. Se ali ficasse aberto viraria lugar de moradia. Esses seres, parecidos zumbis, iam à busca do quê?

Quando entrei nesse espaço que fica debaixo da ponte,ao lado do hipermercado Atacadão, e no sentido São Paulo, fica o Mercado Municipal,eu me vi nas cenas descritas pelo escritor José Saramago no seu livro Ensaio Sobre a Cegueira. Gente vivendo ali diariamente e outros de passagem no meio da bosta, ratos e outras porcarias. Alguns agressivos, menores de idade, velhos e jovens e prostituição ali debaixo do nosso nariz. Talvez possam achar que não são problemas nossos, enquanto um dos nossos não for envolvido. O que estou escrevendo e relatando não é sobre a cracolândia no centro de São Paulo, com a intervenção desastrosa do Estado, agora se espalharampela cidade os recantos de consumo de usuário de crack. A cacrolândia é aqui, bem debaixo do pontilhão da famosa Rodovia Raposo Tavares que vai de São Paulo ao Paraná.

Apenas um lembrete: essa situação social não é caso de polícia!

Um comentário:

  1. Verdade e muita gente finge que não está acontecendo nada, precisamos nos movimentar

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