Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DOM CAMILO E SEUS CABELUDOS: 300 ANOS DA IGREJA NOSSA SENHORA DE MONT SERRAT.


 
No início dá década de 70 à cidade de Cotia ficou conhecida em quase todos e rincões deste meu Brasil, por algo estranho que aconteceu no quintal de um morador.  Dê um dia pra outro, milhares de aventureiros tomaram conta da cidade em busca da grande descoberta. A cidade com pouco mais de trinta mil habitantes não tinha infra- estrutura para receber  tanta gente, os hotéis e pensões lotadas restaram aos novos descobridores acamparem nas praças e ruas. Segundo o relato de alguns moradores, as suas casas foram transformadas em restaurantes,  ganharam muito dinheiro com este crescimento inusitado. Mas o progresso trouxe problemas que antes não existam, roubos de casas, antes as portas e janelas que ficavam abertas, tiveram que se fechadas. Coisas do progresso. Toda está efervescência foi motivada por um único morador: que encontrou petróleo no fundo da sua casa. Petróleo! Quase na mesma época, outro acontecimento mexeu com o brio dos moradores antigos e tradicionais da cidade, houve à invasão de motoqueiros e cabeludos com costumes estranhos a cidade.  Alvoroço total!

As duas estórias acima foram apresentadas na série semanal  da extinta TV tupi,  Dom Camilo e Seus Cabeludos, tendo  como o pároco representado, pelo italianismo Otelo Zeloni. O cenário principal deste seriado era a Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, que neste ano completa 300 anos. Todo o roteiro do seriado se dava a partir da Igreja. Apesar das estórias de  ficção, elas expressam a importância da Igreja na formação do segundo núcleo de moradores da  cidade e influência  na vida social, política e cultural dos seus moradores. Ou Seja,  tudo em Cotia acontecia em torno dá igreja. . Como vamos ver na carta escrita pela professora Ecléia Bosi.

A Professa Ecléia Bosi, com toda delicadeza que lhe cabe, expressa este sentimento de importância da igreja de Cotia na vida social dá cidade, em uma carta enviada para  apresentação do livro Memória & imagem:

 “Meu avô, Amadeu Strambi, cultivava uva em São Roque; ali, no alto da serra, passei belos anos de minha juventude. Nas suas noites frias me aqueci no grande fogão de lenha no pátio da Matriz, onde se preparavam os pastéis, o quentão, das festas e quermesses. Ao seu redor se apinhavam as crianças, e as velhinhas, embrulhadas nos xales, olhavam as chamas e recordavam os bons tempos. Aquele fogão de lenha era o coração generoso da cidade que pulsava. Mão impiedosa o derrubou. O pátio da comunidade hoje é estacionamento.

   Adeus fogão de lenha... adeus velhinhas tiritantes, adeus memória”

 

O depoimento de Dona Antonia Luisa de Moraes, conhecida como D. juju, quando a entrevistei tinha 81 anos. Em detalhes conta está relação quase umbilical da comunidade com  a Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat:

“Dona Juju, com 81 anos durante a entrevista, lembra de uma crença que era singular nas procissões em Cotia: a charola de São Benedito não podia sair nem no meio nem no fim da procissão, tinha que ser o “abre alas”. Se o santo não saísse na frente, com certeza choveria. Outro relato interessante dela é sobre a ornamentação do andor. Ao prepará-lo, ela conta que gostava muito de usar flores naturais e ressalta que as roupas de quem carregava o andor tinham de ser da mesma cor dos arranjos das flores. “O Ditão, que era quem organizava a procissão, era profundamente perfeccionista” – disse ela”.

O relato da Dona Oscarlina Pedroso Victor, mostra como está relação era forte e como a cidade andava em torno da igreja. As procissões, os casamentos, registros de nascimento, obtidos, sepultamentos, acontecia ali naquele espaço sagrado.

 

“A procissão mobilizava muita gente. O percurso iniciava-se na Rua Senador Feijó, entrando na Rua Joaquim Horácio Pedroso, passando pelas ruas Lopes de Camargo e Dez de Janeiro, até a Praça Padre Seixas; entrava novamente na Rua Senador Feijó e terminava na frente da igreja. Segundo Oscarlina Pedroso Victor, cada irmandade representa um segmento da comunidade. A Irmandade Cruzada Eucarística era representada por crianças que usavam uma fita amarela, que identificava seu grau de religiosidade. A Pia União das Filhas da Maria representava as moças, que ficavam nessa irmandade dos 15 anos até o casamento. A fita usada era de cor verde. A Irmandade de São José era composta por homens e mulheres. A de São Benedito e do Santíssimo Sacramento eram compostas apenas por homens. Os irmãos de São Benedito usavam uma indumentária branca com capa preta, chamada opa, e os irmãos do Santíssimo usavam outra, vermelha. Na Irmandade Nossa Senhora das Dores a fita era roxa. No Coração de Jesus era vermelha e na Congregação Mariana, era azul. Esta ultima era composta por moços e seus dirigentes tinham estrelas de metal em suas fitas. Outro detalhe interessante: as roupas dos carregadores de andor eram todas iguais e da mesma cor.”

 

Poderia relatar aqui outras relações intrínsecas com a religiosidade e a matriz de Cotia, deixo estes relatos, alguns engraçados para outro momento. Além dos relatos orais e memoriais friso a importância da pesquisa realizada pelo Padre Daniel Balzan, usam como referencia para trazer luz à vida da igreja, os livros de tombos, batizados, casamentos e Obtidos dá paróquia, algo nunca feito antes. São temas abortados que vão da construção da capela a igreja, sepultamentos, corrupção, poder, divisa territorial que usa como referência as capelas, enfim uma pesquisa, elucidatório sobre a igreja de Nossa do Monte de serras.   O pesquisador divide sua pesquisa em duas partes sobre a matriz.  É bom lembrar que onde está à igreja da Matriz, foi o segundo núcleo de moradores. O local da capela primitiva, tudo indica que ficava na estrada do Golfe são Fernando.

 

  A Primitiva Capela – O documento mais antigo que fala da primitiva capela de N. Sra. de Monte Serrat data de 1684. Trata-se de uma folha avulsa que deveria pertencer ao 1º livro de Tombo de Cotia, assinada pelo bispo do Rio de Janeiro Dom José de Barros Alarcão que visitou a freguesia de Cotia em 1684 (1). Naquela época a paróquia pertencia à diocese do Rio de Janeiro que se estendia até o sul do Brasil.”

      

 Em conversas com Padre Daniel sobre as pesquisas e com seu espírito investigativo, achava que antes da nova construção, funcionou do lado esquerdo da igreja, uma capela que foi acoplada a estrutura maior da construção. Para que os fieis, enquanto não construía a nossa igreja, assistissem as missas. 

 

A Matriz Atual – A Matriz de Cotia, também dedicada a N. Sra. de Monte Serrat, foi inaugurada no dia 9 de Setembro de 1713. De acordo com a ata da posse assinada pelo Pe. Mateus de Laya Leão todos os pertences da primitiva capela foram levados para Itú, menos a imagem da padroeira que foi trazida para a Matriz atual no dia da inauguração (2). A Matriz foi construída pela ajuda de alguns protetores entre os quais se figurava o Coronel Estevão  Lopes de Camargo que cedeu uma parte de seu sítio para a construção da nova capela (3)”.

 

Ao passamos pela igreja de Cotia, até podemos ser indiferentes, mas ali está o fio da miada da origem da cidade. Está arquitetura tem vida. As suas paredes e objetos ali podem dizer muito sobre nós, por isto não pode ser descartada. No Brasil é comum destruir monumentos Históricos, e o tempo não foi diferente com a Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, mas ainda existe tempo para salvá-la.     

 

 

Fontes:

Pesquisa em torno de um monumento

Instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional.

O Livro Memória & Imagem

Autor: Marcos Roberto Bueno Martinez

Capelas da Freguesia de Cotia.

Autor: Padre Daniel Balzan

Pesquisa.

O livro 

Memória & Imagem pode ser encontrado no site: WWW.cotiamemoriaeimagem.blogspot.com

Os textos escritos pelo Padre Balzan podem ser encontrados no blog: WWW.cotiamemoriaeeducacao.blogspot.com

 

 

 

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