Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

EPIDEMIA DE VARÍOLA EM COTIA (1)



O primeiro registro de surto de varíola em Cotia data de 1791. Antes de continuar com este assunto um tanto mórbido, quero convidá-los a criar um cenário usando ficção e História, de como era Cotia no final do século XVIII. Já imaginou? Na praça da matriz, olhando no horizonte nevoento, ao fundo a Igreja de 1713, a venda de escravos e o comércio agitado pelos tropeiros com destino ao sul. Imaginou o burburinho das rezadeiras encomendando mais uma alma vitimada de bexiga, como era conhecida a varíola? Mais um detalhe, os corpos não podiam ser enterrados em solo sagrado, daí a necessidade de criar um cemitério em outro lugar, como revela documento da Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat. E a vida vai sendo levada melancolicamente.

“Aos 18 do mês de outubro de 1791, com licença benzi um cemitério perto desta freguesia, de fronte da Cruz das almas que está no caminho que vai para Sorocaba e perto de um pinheiro, para serem sepultados os corpos dos que falecerem de bexigas e males contagiosos para não infectar o povo todo. E para constar, fiz este termo que assino”.- o Vigário Fernando Lopes de Camargo. (Tombo de Cotia: 1728-1844, p.65v. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva). 

Cento e trinta e sete anos depois, outro surto de varíola assombra Cotia e região. No inicio do século XX, Cotia e o Brasil, agora republicano, ainda guardam muita semelhança com a  freguesia da Cotia colonial. Um relatório de higiene datado de 1926 detalha o surto de bexiga na cidade. O documento apresentado pelo médico E. de Almeida Prado mostra a precariedade em relação à educação sanitária local, motivo da facilidade do avanço da epidemia. O relatório, que é um estudo de cinco anos de medicina e foi apresentado no Instituto de Higiene de São Paulo, aponta a dificuldade em classificar a mortalidade no município como podemos verificar:

“A ausência de médico no município muito contribui para a deficiência nas estatísticas de mortalidade, todas as mortes se catalogando entre as mal definidas ou acidentais, como se verifica nos comunicados do cartório local. Apenas em 1924 vemos um ligeiro esboço de discriminação por doenças, devido talvez ao fato de alguns médicos desta Capital lá terem ido se refugiar durante os dias anormais de São Paulo, presa de um movimento subversivo.”

AQUI VAI UMA FOTO:



Nesta fotografia vemos o Sr. Joaquim Nascimento, Guarda Sanitário, vacinando uma família de brasileiros, habitantes nas proximidades da cidade de Cotia. Pelo aspecto da casa que vemos acima, podemos fazer uma ideia do que era a higiene dos habitantes do município, pois são deste tipo as moradias dos sitiantes.

Os sanitaristas  conseguem mapear os bairros que adquiriram a doença em Cotia, mas deixam bem  claro que a contaminação veio de fora da cidade, do  Bairro de Votorantim, hoje cidade. 

“E.P.S., sexo feminino, e seus três filhinhos: M. S. M. (fem.) ; R. S. M. (masc.) e R. S. M. (masc.), residentes em Sorocaba, adquiriram nesta cidade a varíola. Mais ou menos oito dias após a volta de automóvel para a casa de seu pai neste bairro. Dois dias depois , em 8 de junho de 1926, foram removidos para o Hospital de Isolamento de S. Paulo.” 

Qual a ligação destes casos com a epidemia de varíola em Cotia?

“Como vimos, 4 dos casos de varíola que computamos neste bairro, vieram já doentes de Sorocaba; por isso deveriam ser excluídos da lista dos variolosos do município de Cotia. Não o fizemos, porque esses casos de varíola foram diagnosticados no município de Cotia, e no fichário da Inspetoria de Moléstias Infecciosas estão entre os casos deste município."

BIBLIOGRAFIA
Sepultamentos na Freguesia de Cotia.
Padre Daniel Balzan
Relatório de investigação sobre um surto epidêmico de varíola no Município de Cotia.
Relatório cedido pelo Sr. José Torrezani

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez



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